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Você não precisa ser uma “Mulher Maravilha”

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26/03/2024
4 min. de leitura

Atualmente, o público feminino tem assumido uma função de destaque, seja nas relações familiares ou profissionais. Mulheres de todas as idades estão cada vez mais sobrecarregadas, tendo que assumir o papel de mãe, esposa, amiga, cozinheira, faxineira, psicóloga, professora, contadora, chefe de família e líder de equipe, nos mais altos cargos de gestão.

Entretanto, este acúmulo de atribuições também traz responsabilidades, tarefas e a necessidade de inúmeras decisões urgentes, levando muitas ao esgotamento mental ou à exaustão psicológica. Cenário esse que já ficou conhecido como a “Síndrome da Mulher Maravilha”. Mas como evitar todo esse estresse?

Para compreender a melhor maneira de lidar com tudo isso, mantendo a saúde física e psicológica em dia, entrevistamos a Dra. Lorena Caleffi, médica do Serviço de Psiquiatria e do Centro de Medicina de Estilo de Vida do Hospital Moinhos de Vento. Acompanhe, abaixo:

Como podemos dizer “não” a tantos compromissos e necessidades alheias?

Dra. Lorena Caleffi - Como está na própria pergunta, a necessidade é “alheia”, no sentido de ser uma necessidade de outra pessoa. Então, precisamos prestar atenção ao que nos cerca e evitar manter nossos comportamentos com respostas automáticas, respondendo às demandas apenas porque nos foram passadas.

Alguns casais se baseiam nesse tipo de relacionamento, no qual um cônjuge é responsável por “resolver” e o outro por “solicitar”, muitas vezes em situações nas quais a mulher cuida dos afazeres da casa e o marido tem uma atividade remunerada.

Essa diferença ainda é socialmente percebida como uma espécie de “desnível hierárquico”, onde quem sustenta é quem seria o detentor do “poder”. Sobre essas relações de “poder” poderíamos evoluir aqui para uma compreensão do que ocorre na sociedade em geral, ou seja, no “macrocosmo” que se reflete no “microcosmo” das relações interpessoais. Com a ideia do macrocosmo em mente, podemos ter uma noção da força que as mulheres precisam demandar voluntariamente (quer dizer, “de propósito”, sem deixar no automático) para resistir à pressão tanto social quanto familiar, de exercer papéis que cada vez mais devem ficar no passado.

Como conseguir organizar um cronograma de atividades diárias que não seja tão exaustivo?

Dra. Lorena Caleffi - Seguindo o raciocínio que começamos a desenvolver acima, o primeiro passo é separar o que é do indivíduo e o que é do outro: o que é de fato “meu” e o que não é. Nessa separação, ficará mais evidente quais demandas assumir e quais não.

Se precisar, escreva, faça um cronograma em uma folha de papel na qual você consiga visualizar toda a semana, por exemplo, com todas as atividades, mesmo as mais rotineiras. Nessas atividades, procure manter momentos com interesses pessoais, além do trabalho - seja doméstico ou não -, como hobbies, aulas e atividades físicas.

De que forma é possível evitar o desgaste mental que assola tantas mulheres, de diferentes níveis sociais e de escolaridade?

Dra. Lorena Caleffi - O desgaste mental muitas vezes se dá quando mantemos uma rotina sem parar para avaliar se estamos ou não agindo a nosso favor. Quanto mais equilíbrio houver entre nossas necessidades e as necessidades alheias, menor a probabilidade de desgaste. E maior será a probabilidade de estarmos emocionalmente disponíveis em situações críticas, como em um período de doença ou outro tipo de estresse.

Em que momento é preciso pedir ajuda? E para quem?

Dra. Lorena Caleffi - É preciso pedir ajuda quando percebemos que a nossa dificuldade em lidar com o estresse está além da nossa força de vontade; quando a energia que temos já não basta para manter o equilíbrio necessário.

Também é importante prestar atenção ao nosso funcionamento corporal: como aumento ou perda de peso, insônia ou sono não reparador, dificuldade de relaxar (percebendo sempre uma tensão muscular) ou problemas de concentração e atenção. Estes podem ser sintomas de alerta para uma revisão com um especialista, seja um psiquiatra ou psicólogo.

De que forma os exercícios físicos, os contatos com amigos e a alimentação saudável podem auxiliar a reverter esse desgaste mental?

Dra. Lorena Caleffi - Exercícios físicos, suporte social (pelo contato com amigos e familiares), além de uma alimentação saudável são ações paralelas que devem ser adicionadas à rotina, com o objetivo de contrabalançar o desgaste mental e físico trazido pelo estresse diário.

Algum nível de estresse diário todos nós enfrentamos, por mais baixo que seja. Mesmo a expectativa de algo bom, positivo, traz uma resposta fisiológica relacionada ao estresse. Conforme as demandas vão se intensificando, acumulando, ou não são intercaladas com momentos de tranquilidade e relaxamento, essa resposta fisiológica ao estresse também acumula, trazendo consequências danosas ao organismo.

Que conselhos a senhora gostaria de deixar às leitoras?

Dra. Lorena Caleffi - Não existe “UM certo”, existe o que serve e o que não serve. Uma determinada forma de viver pode servir por um tempo, mas deixar de ser interessante porque mudamos nossa maneira de ver o mundo; nossa escala de valores.

Então, não tenha medo de mudar. Tente. Se por acaso “não der certo”, tente de novo. Converse sobre suas necessidades e desejos com seu parceiro ou parceira. Não abra mão de si mesma. Essa postura exige esforço e até pode ser cansativa, pois vão ter tropeços e armadilhas de relacionamento. Mas não desista, sempre é possível corrigir o rumo de nossas próprias vidas.

Fonte: Dra. Lorena Caleffi (CRM 17211) é médica do Serviço de Psiquiatria e do Centro de Medicina de Estilo de Vida do Hospital Moinhos de Vento.

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